
“Como é fácil esquecer que sob as palavras e textos com os quais convivemos diariamente, há pessoas.”
Esta é uma verdade. E esquecemos de maneira mais corriqueira. Fazendo comentários ou deixando de fazê-los, ignorando... São coisas da convivência humana. Com delicadeza e palavras de incentivo ou não. As atitudes são repetidas no ambiente virtual. Atenção, isto não é uma queixa, apenas uma constatação.
No domingo passado, conversei com minha amiga
Felina pelo MSN. Ela comentou que estava fazendo a receita do feijão carioca. Uma adaptação, porque o feijão que ela gosta é o preto. Bom, não importa isto e sim que era outra maneira de fazer o feijão. Que no caso acrescentando o tomate. Ela dizia “Anny, já estou no 2° prato. Hehe! Fiquei feliz. Pode parecer sem importância, mas gostei por ela ter me informado. Custa? Não. Apenas uma delicadeza. Adorei. Ela é mesmo muito especial. Obrigada Felina! Esta é a parte boa. Muito boa. São as diversidades. Com elas aprendemos muito sobre nós mesmos e sobre o outro. Como o ser humano costuma avaliar tudo que está ao seu redor, faz isto com tudo. Com gatos, cachorros e pessoas. Bom ou ruim? Na minha opinião, nem sempre acertada. Ás vezes, compreendi mal a atitude da pessoa e acabo fazendo indelicadezas. Então, todo cuidado é pouco com minhas atitudes: palavras ou omissão delas. Viver fica muito melhor se distribuo palavras de incentivo. Seja no mundo virtual ou não. Um elogio faz muito bem a quem recebe e a quem faz. Uma troca. Um tipo de diálogo diferente. Aconchegante, como um perfume preferido, um cheiro de bolo, pão recém assado. Um café quentinho ou um chá. Estas coisas que sentimos quando percebemos um fio de amizade por aí...
“A poesia é uma explicação do mundo.”
O Fotógrafo
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre
as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na
pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.
Por fim eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
Braços com Maiakovski – seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros
Ensaios Fotográficos.
A poesia pode mesmo ser uma explicação do mundo. Por que não?