terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Viver é...


Viver é um desafio. Colocar cores bonitas, aconchegantes e amigáveis na vida outro desafio também. Em cada situação vivida, um colorido especial. Orquestrar estas cores é o exercício diário de cada um.

Uma das coisas que sempre coloriram minha vida: livros. Ah, citá-los então faz com que as tonalidades sejam sempre uma aquarela a mais. No texto de hoje, Gastón Bachelard sugere que “Toda pessoa deveria então falar de suas de suas estradas, de suas encruzilhadas, de seus bancos. Toda pessoa deveria fazer o cadastro de seus campos perdidos. Thoreau afirmava ter o mapa dos campos inscritos em sua alma. E Jean Wahl escreveu:
O ondulado das sebes,
É em mim que o tenho.
Poems, p. 46”
(A poética do Espaço, III, p. 31)

Acredito que todos nós temos campos perdidos e vamos no decorrer da vida demonstrando o desenho deles. Com certeza, os meus não estão devidamente cadastrados. Só comecei a perceber suas existências ao escrever sobre estradas, ninhos, encruzilhadas, bancos, cores. Um rastro certeiro para chegar neles.
São croquis dos meus desenhos vividos. Percebidos por uma cor que revela o meu espaço interior. Ou palavras que se repetem e repetem. Formando meu labirinto interno, figurativo ou abstrato. Cada um com sua riqueza ou pobreza pessoal. Conforme a diversidade de cada um deles.Por isto e por outros detalhes, gosto tanto de escrever. Cada texto um quadro. Cada palavra uma tonalidade. E para ser mais exata, sempre uma aquarela, porque imprevisível em seu desenho e inimaginável o seu alcance final. Como tudo que se escreve. São palavras dispostas ordenadamente, para demonstrar nem sempre uma ordem, Uma beleza. Mas sentimentos variados como variados são os dias e os acontecimentos. E nem sempre estou atenta a isto. Escrever me faz consciente da alternância dos dias com suas cores ou com a ausência delas.
Um dia daltônico, por exemplo. Onde troco ou não sei qual a cor verdadeira. Ou um dia cego onde não vejo o que é para ser visto e invento usando a minha neurose, para consertar o que não é para ser consertado e sim aceito porque é apenas uma diversidade. E vou por aí fazendo todos os desenhos possíveis e impossíveis. Porque isto aqui é uma Linha. Apenas uma linha que sonha, tem pesadelos, medos inconfessáveis, amizades verdadeiras, virtuais, amores e um grande carinho por quem lê e comenta com palavras com cheiro de canela, azuis, com janelas, sem janelas, carinhosas e inteligentes. Um colorido que todo ser humano deseja ardentemente para sua vida. Ou não...

Olho pela janela da cozinha e vejo uma chuva mansa fazendo um barulho gostoso de ouvir e pela janela do quarto, um céu de chumbo, com o sol brigando com as nuvens para aparecer. Nada como uma flor. Uma graxa amarela para começar o dia enfeitar a tela e a vida de quem aparece aqui para ler. Um texto faça melhor o dia que nasceu triste e espera providências urgentes para sair da UTI. Um dia de boas risadas ou de cores adequadas para equilibrar tudo que anda torto, quebrado, inadequado. Péssimo. Mas que pode sempre ser modificado se você quiser...

11 comentários:

  1. Bom dia para quem é do dia, boa tarde para quem é da tarde e boa noite, para quem é da noite.
    Viver é um assunto para resolver todos os dias. Todos. Colquei aqui hoje uma parte do que penso. Sigo minhas trilhas.
    Obrigada por comentarem. Vocês são sempre uma fonte de inspiração para mim.
    Bejos,
    Anny...

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  2. Este texto tem uma frase que diz muito sobre alguns dos meus dias aqui no isolamento de ser expatriado, tenho dias em preto e branco, mas sou uma pessoa de cores, é uma pena.
    bjks
    Cristiane

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  3. Olá Cristiane:
    Gosto muito de ler seus textos. Embora fique triste com a sua situaçõo, consegue passar atravéz se seus relatos, como e viver num lugar tão ao contrário do que você é. Com certeza é o sue colore, alegra e diverte quem lê você. Obrigada pelo comentário.
    Beijos,
    Anny

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  4. Chuvinha mansa iria bem aqui, está muito seco.

    Boa semana

    bj

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  5. Olá Milton:
    Tudo temporário. Aqui, neste instante, está no maior sol. Nem acredito que choveu hoje.
    Obrigada pelo comentário.
    Beijos,
    Anny

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  6. Quanta poesia nos seus pensamentos, como você, também sou apaixonada por livros, hábito de lê-los ganhei dos meus pais, que ganharam dos deles, passei para o meu filho,e acho que apaixonei-me de verdade pelo meu marido quando conheci a biblioteca dele (ele sabe disso) rs
    Mas... lindo mesmo o seu texto.

    PS. Também inspirada na a sua postura ecológicamente correta, a partir de hoje, até a Molly, vai ao supermercado, levando uma sacola retornável.
    bjs
    silvia

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  7. Descobri o Danilo Kis, um escritor dos Balcãs. Escreveu um relato sobre Boris Davidovich. Uma coisa impressionante os sofrimentos pelos quais ele passa. Numa região de grande conflitos desde há dois mil anos. Ele os vive estoicamente, quase com prazer. E termina o relato dizendo o seguinte: "...(na medida em que se aceite nossa tese de que, apesar de tudo, o sofrimento provisório da existência é melhor do que o vazio definitivo do nada):..."
    Essa reflexão calou fundo em minha alma. Assim como calou a veracidade da sua linha perambulante. É isso; meus parabéns. Beijos.

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  8. Silvia:
    Fico muito contente por gostar do que escrevo por aqui e pela minha atitude ecológica. Sabe como é? Alguém tem que começar a fazer alguma coisa em favor do planeta. Se posso fazer, faço questão de ser mais um grão de areia na praia. Uma questão de consciência pessoal. É isto. Obrigada pelos elogios. Bem sei que quando gostamos do que lemos a leitura nos inspira e faz com que tenhamos novos olhares sobre o assunto dito. Que bom esta sua paixão pelos livros.
    Então uma pergunta que não quer calar. Molly vai ao supemercado com Bolsa retornável? Ah, é isto que estou pensando?
    Beijos,
    Anny

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  9. Djabal:
    Gosto muito de seus comentários aqui. Sei que toda leitura, seja de um livro, de um post que gostamos tem a capacidade nos fazer refletir sobre o assunto abordado. Sei que você já leu Bachelad e escrevi sobre o que ele afirma. Concordo com ele em gênero número e grau. Então, devo ter feito alguma mágica com as letras e heis que elas seduziram você. Ah, mas fico muito feliz.
    Obrigada, obrigada.
    Beijos,
    Anny.

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  10. Anny, eu sou uma pessoa essencialmente otimista e meus dias são coloridos. Mesmo se esse nao fosse o meu estado de espírito, o colorido viria da natureza, de tudo que me certa e isso também o estado de espírito. Eu nao prestaria para viver 365 dias em um país cinza.
    E agora, não falando em aura, porque pouco entendo disso e como citei anteriormente o meu amigo "Azul" - confesso que enxergo as pessoas em cores, cada uma invoca uma cor. Engraçado é depois constatar a cor preferida destas pessoas.
    Anny, você escreve os seus livros nas telas e quando as pessoas lêem, as mais sensíveis enxergam os sentimentos que possuía na hora que exorcizava o seu espírito nos traços e nas cores.
    Picasso teve suas fases. Anny já teve? ;=))) Beijus

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  11. Luma:
    Sabe que sou "otimista de plantão" ainda por cima. Pois é. Vejo dois lados em tudo. Sou sagitariana, o que pode esplicar um pouco esta tendencia. Explica, mas não justifica. Mas vamos a uma outra forma de ver o quadro. Não enfatizo tristeza. Nem faço questão dela. Por ser uma pessoa ensolarada, sempre vejo um fiapo de azul em qualquer tipo de pintura. Mesmo porque as tintas se misturam para formar outras. E quanto ao azul, gosto dele mas foi uma fase. Se igual a Picaaso, não sei. Nem tinha reparado nisto. Hehe! Obrigada pelo comentário lindo. Sou sua fã.
    Beijinhos azuis, então.

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